CONVENTO DE ALCOBAÇA
Testemunho dum amor inusitado
...é por vezes referido pela sua funcionalidade, por
Mosteiro de Alcobaça.
1 - LOCALIZAÇÃO
Fazendo parte da Arquidiocese de
Lisboa, situa-se no Centro de Portugal, mais precisamente em Alcobaça, que deve
o seu nome à existência de dois rios na sua edilidade: o Alcoa e o Baça.
2 - ORIGENS
Sendo o primeiro monumento de Estilo Gótico construído em território nacional, inspirado quer nas dimensões, quer na disposição espacial, no monumento de Claraval, inclui também elementos de outros estilos arquitectónicos tais como o Manuelino, o Maneirismo e o Barroco.
É do Século XII, tendo começado a ser construído em
1178 pelos Monges da Ordem de Cister e fundado por D. Afonso Henriques. A sua
sagração ocorreu em 1252, apenas 9 anos após a fundação da nacionalidade de
Portugal (1143).
3 - EVOLUÇÃO
O Convento de Alcobaça foi abandonado compulsivamente pelos
Monges da Ordem de Cister em 1834, por ocasião da publicação do Decreto-Lei que
extinguiu todas as Ordens Religiosas em Portugal.
Os Cistercienses regressaram a quase
todas as nações onde tiveram uma presença histórica, excepto Portugal, único
país onde a Ordem de Cister foi historicamente importante e em que não foi
efectuado qualquer regresso depois da extinção dos mosteiros, em 1834.
Em 1910 foi declarado
Monumento Nacional.
Em 1989 foi declarado
pela UNESCO Património Mundial da Humanidade.
Em 2007 foi nomeado
como uma das 7 Maravilhas de Portugal.
4 - SUA
HISTÓRIA
4.1- GERAL
"Nos finais do século X havia sido criado em Borgonha o primeiro Museu Beneditino seguindo a Regra de S. Bento que advogava que "os seus monges deviam viver só do seu trabalho e não podiam acumular riquezas. Como tudo na vida, tal regra foi sendo menos respeitada e em 1115 Bernardo de Fontaine fundou em Claraval um novo Monumento que assegurasse o cumprimento da Regra de S. Bento. Foi assim que Bernardo de
Fontaine, monge chegado a Cister em 1112, levou o impulso decisivo à Ordem
de Cister. À frente de 30 companheiros, nobres e clérigos, assumiu o hábito
cisterciense e conferiu um vigor que tornou irreversível e imparável o movimento
de renovação monástica de Cister.
Autoridade, carisma e
grande dimensão espiritual foram as linhas de força da acção de Bernardo, que
exerceu grande influência na cristandade medieval.
Os séculos XII e XIII
foram as centúrias do apogeu de Cister em Portugal, como em toda a cristandade,
destacando-se a abadia de Alcobaça, a maior do reino e uma das maiores da
Ordem.
No mundo feudal
europeu do séc. XII, Bernardo foi uma das maiores luminárias, impelindo o
enxamear cisterciense a níveis nunca vistos. À data da sua morte, em 1153,
contavam-se mais de 350 mosteiros fundados sob o seu impulso (161 eram
"filhos" de Claraval, entre os quais o Convento de Alcobaça). Em
finais do século XIII o manto branco de Cister cobria já toda a Europa de forma
verdadeiramente ímpar na história monástica: em fins desta centúria, eram já
cerca de 700 as comunidades da Ordem na cristandade.
Nasceu assim um novo
modelo de organização monástica, em que não havia uma centralidade nem uma
total independência nas abadias, antes existia um sistema hierárquico de
filiação com base na Caridade. A “mãe” funda as “filhas”, vela por elas,
nomeia-lhes abade, visita-as anualmente. A coesão e unidade são conferidas pelo
Capítulo Geral anual e pelos Estatutos que emana.
Portugal foi
extremamente importante na história de Cister, tal como Cister foi relevante no
processo de afirmação do Reino de Portugal como entidade política autónoma.
Desde a (re)fundação cisterciense de Tarouca em 1144, depois de várias
tentativas de fixação dos Monges Brancos em Portugal sob patrocínio e protecção
de D. Afonso Henriques e da aristocracia portucalense, até ao seu
"encerramento compulsivo" de 1834, Cister foi uma das mais destacadas
instituições religiosas da história nacional, moldando mentalidades, animando
cultural e educacionalmente, arroteando terras, explorando, produzindo, como
pioneiros de povoamento, entre outras realizações".
Ali, Afonso Henriques apoiou os Monges Beneditinos, conhecidos então por Monges Brancos (por vestirem de branco), não só na construção da sua Igreja e Convento, como a sua meritória acção civilizadora da região. Foi através da sua acção que se fez o povoamento da zona, se construiu a primeira Escola e, um pouco mais tarde, uma verdadeira Escola de Agricultura.
O Monumento global levou cerca de 100 anos a ser construído, e não é por acaso que no frontespício da fachada da sua Igreja, já com as Torres Sineiras adicionadas no século XVIII, estão representadas as figuras de S. Bento e S. Bernardo.
4.2 - HISTÓRIA DE PEDRO E INÊS
Ainda que a História de
Alcobaça acompanhe a par e passo a própria História de Portugal, desde a
sua fundação, quase contemporânea de ambas, há aqui que dedicar um sub capítulo
muito especial à História de Pedro e Inês, uma História de Amor que, em meu
entender, ultrapassa em muito a celebérrima história dos inesquecíveis Romeu e
Julieta de Verona.
Não existe história de amor que
mais tenha marcado a História de Portugal, do que a do amor proibido entre o
Infante D. Pedro e Inês de Castro, dama de companhia da sua mulher D.
Constança Manuel. Depois do casamento, o Infante marcava encontros românticos
com Inês nos Jardins da Quinta das Lágrimas.
Depois da morte de D. Constança,
D. Pedro passou a viver maritalmente com Inês, o que acabou por irritar seu
pai, o Rei Afonso IV, que condenava a forma veemente daquele amor, o qual
provocava forte reprovação da Corte e do Povo. Contudo, Pedro continuou a viver
no Paço de Santa Clara, em Coimbra, com Inês e os seus três filhos.
Mas o crescendo de censura à união por
parte da Corte pressionava constantemente D. Afonso IV, que acabou por mandar
assassinar Inês de Castro em Janeiro de 1355. Louco de dor, Pedro liderou uma
revolta contra o rei, nunca perdoando ao pai o assassinato da amada.
Quando finalmente assumiu a coroa
em 1357, D. Pedro I mandou prender e matar os assassinos de Inês,
arrancando-lhes o coração, o que lhe valeu o cognome de o Cruel.
Mais tarde, jurando que se havia casado
secretamente com Inês de Castro, D. Pedro impôs o seu reconhecimento como
Rainha de Portugal. Em Abril de 1360, ordenou a trasladação o corpo de Inês, de
Coimbra para o Mosteiro Real de Alcobaça, onde mandou construir dois magníficos
túmulos, para que pudesse descansar para sempre ao lado da sua eterna
amada.
Ficaria assim imortalizada em pedra, a mais arrebatadora história de amor portuguesa.
4.3 - Heranças da Ordem de Cister na Região de Alcobaça
Da acção
civilizadora da Ordem de Cister na região de Alcobaça, ainda hoje se recolhem
os frutos, mas não só dos verdadeiros frutos da região de Alcobaça.
Apraz aqui referir a célebre Festa da Fruta da região de Alcobaça, que se realiza em Cela em cada mês de Setembro.
Entre tantos outros frutos que nos deixaram os Monges de Cister, podem referir-se a doçaria conventual, os vinhos e licores da região e a cerâmica, bem famosos, quer
nacional, quer internacionalmente.
4.3.1 - Doces Conventuais
A Doçaria Conventual tem, em Alcobaça, uma tradição riquíssima, herdeira das tradições gastronómicas dos Monges de Cister, senhores dos antigos Coutos de Alcobaça que deixaram, devido a mais de oito séculos de permanência na região e com a sua dedicação à terra e aos saberes, uma marca de excelência.
De 19 a 22 de Novembro, Alcobaça recebe uma Mostra Internacional de Doces & Licores Conventuais, em pleno Mosteiro de Alcobaça, Património da Humanidade, e uma das 7 Maravilhas de Portugal, onde poderá degustar o melhor do receituário conventual não só de Alcobaça mas, também, de outros mosteiros, conventos e pastelarias, tanto nacionais como internacionais.
Ainda que
alguns deles possam ter influência de outros conventos, tais como os bolos de D. Pedro e D. Inês,
aparentemente feitos com massa dos Pastéis de Tentúgal, também conventuais.
4.3.2 - Vinhos Medievais de Ourém
"No período Medieval e dados os
dogmas religiosos, o vinho tinto opaco e encorpado era considerado o Sangue do
Diabo! Assim e para ficar semelhante ao Sangue de Cristo, eram vinificadas
primeiro em barrica as uvas brancas, depois e para evitar pigmentação por
polifenóis (compostos desconhecidos na época), as uvas tintas eram esmagadas sem
esgotamento e posteriormente adicionado o líquido. E assim estagiava em
barrica até ao fim da fermentação. Actualmente e por legislação, é obrigatório
cumprirem-se 2 anos de estágio !
A tradição vem desde o início da Nacionalidade, através dos Monges de Cister. Estes vinhos têm por isso séculos de história, numa linha de 800 anos, produzindo brancos, tintos e palhetes, constando que D. Afonso Henriques terá então celebrado com tal finalidade um acordo com os Monges de Cister.
A tradição vem desde o início da Nacionalidade, através dos Monges de Cister. Estes vinhos têm por isso séculos de história, numa linha de 800 anos, produzindo brancos, tintos e palhetes, constando que D. Afonso Henriques terá então celebrado com tal finalidade um acordo com os Monges de Cister.
Actualmente, após longas batalhas, caminhou-se no sentido de criar a certificação, obedecendo a um método com a denominação de Medieval! Por isso ainda hoje este tipo de vinho é designado por “Vinho Medieval de Ourém” com denominação de Origem Encostas d’Aire.
O palhete actualmente certificado (também designado Medieval) foi criado pelos monges, e é um “vinho branco pintado com uvas tintas”, segundo a tradição que consta dos registos efectuados pelos monges da Ordem de Císter. Eis a razão pela qual os "Vinhos Medievais de Ourém" e os antigos "Palhetes de Ourém", são vinhos nascidos dos ensinamentos providenciados pela emérita Ordem de Cister do Mosteiro de Alcobaça, mas também vinhos nascidos do engenho do homem, da necessidade e vontade de simplificar um processo custoso e caro que o engenho humano conseguiu abreviar de forma satisfatória.
Tradições nacionais e europeias de mistura entre uvas tintas e uvas brancas que uma pequena região portuguesa teimou em manter e que acabou em força de lei graças à tenacidade e teimosia de um pequeno punhado de produtores, que não hesitaram em lutar pela manutenção de um vinho histórico que remonta à criação do reino de Portugal. Vinhos palhetes que sobreviveram às modas e ao passar do tempo, vinhos que descendem dos tempos medievais quando os vinhos tintos ainda se chamavam “vermelhos” e os vinhos brancos eram considerados os "favoritos da nobreza".
4.3.3 Ginja
de Alcobaça
Também é bem conhecida a Ginginha de Alcobaça, cuja origem nos leva novamente aos Monges de Cister.
Também é bem conhecida a Ginginha de Alcobaça, cuja origem nos leva novamente aos Monges de Cister.
A Cerâmica de Alcobaça é uma
actividade praticada na região de Alcobaça desde o Neolítico. Situada geograficamente
numa zona relativamente próxima da costa, Alcobaça encontra-se numa região cuja composição do solo em matéria
argilosa, é caulinítica, por isso apropriada para cerâmica.
Mas em Alcobaça, o fabrico sistemático de louça é
feito desde que no Mosteiro se albergaram monges que, tendo criado no século XVI
Quintas que funcionaram como Escolas Agrícolas e Industriais anexas,
nelas incluíram a Olaria.
Consta que terá sido por esse tempo que foram também estabelecidas Receitas Tradicionais, tais como o célebre "Frango na Púcara".
Segundo consta, em 1770 surgiu no Juncal uma fábrica de cerâmica, que perdurou um século. Mais tarde, em Alcobaça, em 1875 surgiu também uma fábrica de cerâmica, fundada por José dos Reis. Mas foi só aquando da construção do Mosteiro, que surgiu em Alcobaça a escultura do barro policromado.
Consta que terá sido por esse tempo que foram também estabelecidas Receitas Tradicionais, tais como o célebre "Frango na Púcara".
Segundo consta, em 1770 surgiu no Juncal uma fábrica de cerâmica, que perdurou um século. Mais tarde, em Alcobaça, em 1875 surgiu também uma fábrica de cerâmica, fundada por José dos Reis. Mas foi só aquando da construção do Mosteiro, que surgiu em Alcobaça a escultura do barro policromado.
Entretanto, foi já no século XVIII, que surgiram as primeiras peças de faiança conhecidas pela sua inscrição no centro, da palavra «Alcobaça».
"Passados que são quase 900 anos sobre a sua construção, o
conjunto monumental de Alcobaça conserva intacto não só a Igreja, como todo um
belo conjunto de dependências medievais, das quais se salientam: a Sala
dos Reis, a Sala do Capítulo, o Claustro de D. Dinis, a Cozinha, o
Dormitório e o Refeitório ".
Sob o olhar de Santa Maria de Alcobaça, colocada quase à entrada, mas do lado direito da Nave Central da Igreja do o Monumento…
...logo na entrada da Igreja do Monumento, não só nos sentimos pequeninos, como a altura, a grandiosidade e a elevação da referida nave central, fazem sentir o visitante que está entrando num Monumento ligado ao céu, convidando à introspecção e ao recolhimento.
Também impressiona o visitante a singeleza do Altar-Mor…
…quer visto de frente...
...quer observado de costas!
É precisamente no transepto desta
Igreja, que se encontra imortalizada a mais impressionante História de
Amor da História de Portugal, consubstanciado nos dois Túmulos que para ali
foram concebidos e colocados, por decisão do Rei D. Pedro I de Portugal.
Tendo reinado desde 1357 e morrido em 18 de Janeiro de 1367, ele não só reabilitou a memória da sua
amada, como a fez sepultar no transepto de Alcobaça, num impressionante túmulo
no qual fez representar as cenas do Juízo Final.
Para o seu próprio túmulo, para além das cenas da Vida de S. Bartolomeu, fez aquele rei representar a Roda da Vida, a qual simboliza a sua própria História de Amor por Inês de Castro.
Em
Desde então, em ambos
os lados do impressionante Transepto da Igreja do Convento de Alcobaça, os corpos de D. Pedro I de Portugal e de D. Inês de Castro, ficaram
nos seus Túmulos virados um para o outro, pés virados aos pés, de tal modo que se
possam reencontrar frente a frente, no dia do Juízo Final e da sua consequente Ressurreição!
Depois de
deixar o transepto da Igreja, foi possível dar uma espreitadela à Sacristia
Nova, da mesma. Tendo a sacristia original sido destruída em
1755, depois de várias mudanças, a Sacristia actual já foi reconstruída na segunda metade do Séc. XVIII no
estilo Rocócó.
É uma grande sala com o tecto ricamente trabalhado em estuque pintado, representando a Apótese de S.Bernardo, e o chão revestido de mármore formando desenhos geométricos. A mobília é composta por arcazes (arcas grandes com gavetões) de madeira preta, e dois armários de cada lado da porta de entrada, em pau-santo, com incrustações em marfim e ébano datadas de 1664. Integra ainda a Capela-Relicário, de planta circular e cujas paredes são revestidas por retábulo de talha com setenta e um bustos-relicários.
Seguiu-se,
então já à esquerda da entrada do Convento, para a Sala dos Reis, que era a antiga
Capela-Salão construída no séc. XVIII. Tem esse nome, por nela se exporem esculturas, em terracota policromada,
representando os Reis de Portugal desde D. Afonso Henriques até D. José.
As estátuas dos reis portugueses
que, inicialmente se encontravam na antiga Sala das Conclusóes, foram
mudadas para esta Sala dos Reis, entre os anos de 1765 e 1769.
O conjunto é completado com uma alegoria à Coroação de D. Afonso Henriques pelo
Papa Alexandre III e por São Bernardo.
Papa Alexandre III e por São Bernardo.
A obra é atribuída aos monges do Mosteiro que trabalhavam o barro.
Nos azulejos azuis, datados do último terceto do século XVIII, que revestem as paredes da Sala dos Reis, está representada a Lenda da fundação do Mosteiro de Alcobaça.
Desce-se de seguida
para os Claustros do Convento, interessantes por dentro...
...e com bonitas vistas externas.
O primeiro claustro, o Claustro
do Capítulo, está situado no lado Oriental, começando no seu lado Sul, numa porta de ligação à Igreja,
através da qual os monges passavam para aceder a esta. Dão para este claustro a Sacristia
Medieval, a Sala do Capítulo, o Parlatório, a escada de acesso ao Dormitório e também o acesso à Sala dos Monges.
...em cuja entrada se encontra uma lápide
de um monge não identificado.
de um monge não identificado.
Era nesta Sala que se
realizavam as Assembleias dos Monges, sendo por isso, logo depois da Igreja, a
sala mais importante do Convento.
O acesso à Sala do
Capítulo mostra uma estrutura vistosa com os seus pilares
escalonados uns atrás dos outros. O seu nome deve-se ao facto de ser nela que se faziam as leituras dos vários Capítulos da Regra Beneditina.
Também era nela que se faziam as votações e outros actos
semelhantes, importantes para a vida dos monges. De forma quadrangular de 17,5 metros de lado,
nela cabiam 200 monges.
Volta-se
depois ao Claustro para continuar a visita.
Mais adiante, surge uma escada para o Dormitório que, segundo consta só foi descoberta em 1930, quando
se fizeram as obras de renovação. O Dormitório localiza-se
no primeiro andar do lado Oriental da parte medieval da Igreja tendo uma área
de cerca de 1300 m².
Na forma actual e
restaurada, o Dormitório apresenta-se na sua forma medieval original. Na parte
superior do lado sul, o Dormitório é aberto por uma grande porta ogival que dá
acesso ao transepto norte da Igreja. Antigamente, e nesse local, existia uma
escada permitindo o acesso à igreja, cumprindo-se assim uma Lei Cisterciense
que obrigava a que o dormitório possuísse duas entradas de acesso. Na parte
superior do lado Norte do Dormitório encontravam-se as latrinas, que se
estavam obrigatoriamente separadas por uma sala à parte – lei estipulada de
igual modo pelos usos cistercienses. As águas eram escoadas para o Jardim do
lado Norte da Abadia.
Os monges dormiam todos juntos e totalmente vestidos, sendo separados apenas por uma separação móvel. O abade possuía uma cela própria. Naquele tempo, era esta a disposição existente na maior parte dos mosteiros. O Dormitório foi sendo alterado ao longo dos séculos.
Foi ali indicado que os haveres dos monges brancos eram tão poucos que cabiam nos pequenos orifícios quadrangulares ali existentes naquelas paredes!
A meio do lado Ocidental, há uma porta estreita que dava acesso a uma escada em caracol, que hoje dá acesso à Cozinha.
"Durante o seu reinado, o rei D. Afonso VI (1643-1683) deu a ordem de construção de um novo Claustro na área Noroeste do Mosteiro, através do qual era necessário abdicar da Cozinha Medieval a Oeste do Refeitório. Ao mesmo tempo, os hábitos alimentares dos monges tinham-se alterado. De acordo com os usos cistercienses antigos, a carne e as matérias gordas estavam proibidas aos monges. Abria-se uma excepção no caso de doença, podendo os monges comer carne na enfermaria. No ano de 1666, o Papa Alexandre VII autorizou o consumo de carne três vezes por semana. Esta autorização desencadeou uma mudança radical nos costumes dos monges, estando a sua pequena cozinha, mal preparada para tal alteração alimentar. Assim, foi necessário desviar o calefactório a leste do refeitório para se criar uma cozinha nova. Para além da Cozinha, o Calefactório era a única sala em que se podiam aquecer, pelo que, na época medieval, era neste local que os monges (copistas) copiavam os seus livros. No entanto, com o alargamento de mais Claustros do Mosteiro, essa sala tornou-se desnecessária até porque, entretanto, a impressão tinha substituído a cópia manual. Deste modo, foi construída na área do Calefactório e do Pátio uma nova Cozinha, de 29 m de profundidade e de 6,50 m de largura, que ultrapassava os dois andares, atingindo uma altura de 18 m. A data exacta da nova construção não é conhecida, embora exista, numa parede da Cozinha, uma inscrição com a data de 1712. Porém, presume-se que a Cozinha Nova ainda tenha sido construída antes do Claustro do Rei D. Afonso VI, por volta do século XVII.
No meio da cozinha, foi construída uma lareira sobre uma área de cerca de 3 x 8 m, com uma altura de 25 m, com duas lareiras laterais com as medidas de 2,5 m x 1,5 m e de 4 m x 1,5 m de altura igual, sendo estas medidas as mais altas do Mosteiro, com excepção da Igreja com a sua nave".
Estas
dimensões só existiam em Portugal no Convento de Cristo, em Tomar e no Palácio Nacional de Sintra. O chão da lareira
principal era rebaixado em relação ao nível do solo para que retivesse as
brasas, pelo que estas dimensões – após a abstinência de carne durante
séculos – eram propícias a grelhar e a cozer o gado. "Ao que consta, a cozinha era o suficiente para alimentar mais de 500 pessoas.
Em 1762, existiam em Alcobaça 139 monges brancos, juntando-se-lhes ainda os irmãos leigos". Não eram pois de surpreender, nem as dimensões da chaminé, nem o imaginoso sistema de captação e acesso de água, nem tão pouco as da própria mesa de pedra ali existente.
Por baixo do chão da cozinha corre uma conduta da Levada, um braço artificial do rio Alcoa. A água sai pelo lado norte da cozinha por uma fenda aberta para fluir numa bacia inserida no chão, da qual a água era retirada. Do lado oeste da Cozinha foram colocadas sete grandes bacias de pedra com saídas por meio de figuras imaginárias ou caretas...
...das quais saía a água para dentro de duas bacias do tamanho de uma banheira, alimentadas por uma fenda saída da parede.
"Esta fenda era alimentada por uma outra afluência de água, que, por sua vez, era alimentada por uma fonte através de uma conduta de 3,2 km com água potável. Em 1762, a cozinha recebeu os azulejos nas paredes e nos tectos que ainda hoje existem".
Por baixo da parte Norte do Dormitório, acessível através de uma porta que se encontra ao lado da escada para o mesmo, localiza-se a Sala dos Monges.
Por baixo da parte Norte do Dormitório, acessível através de uma porta que se encontra ao lado da escada para o mesmo, localiza-se a Sala dos Monges.
Esta
sala possui cerca de 560 m², inclinando-se para o lado Norte mediante quatro
degraus. Nos primeiros séculos, esta sala servia para o alojamento dos noviços,
que não participavam na vida normal dos monges professos. Quando, no início do
século XVI, o Dormitório dos noviços foi transferido para o segundo andar do
dormitório dos monges, a Sala dos Monges transformou-se numa sala de trabalho e
numa sala de estar dos monges. Actualmente é também usadas para Eventos vários.
"Na Época Medieval, o claustro a Norte, o Claustro do Refeitório, englobava, visto de Oriente para Ocidente, a sala ao lado da Sala dos Monges, o Refeitório com um lavabo à entrada, e a Cozinha Antiga".
"Na Época Medieval, o claustro a Norte, o Claustro do Refeitório, englobava, visto de Oriente para Ocidente, a sala ao lado da Sala dos Monges, o Refeitório com um lavabo à entrada, e a Cozinha Antiga".
Agora, a Oeste e ao lado da Cozinha Nova, encontra-se o Refeitório, constituído por uma
sala com três naves, com as dimensões de cerca de 620 m² (29 x 21,5 m). Por cima
da entrada encontra-se uma inscrição em latim de difícil interpretação:
respicite quia peccata populi comeditis (lembrem-se que estão a comer os
pecados do povo).
A sala impressiona pelas suas proporções harmónicas, possuindo janelas tanto do lado Norte como a Leste.
Do lado Oeste, uma escada de pedra conduz ao Púlpito do Leitor, que lia textos espirituais durante as refeições.
Os Monges sentavam-se com os rostos virados uns para os outros e tomavam a sua refeição em silêncio. O Abade estava sentado com as costas viradas para a parede a Norte. Alguns metros atrás, encontra-se na mesma parede uma abertura de dois metros de altura e 32 cm de largura, que conduz à sala, não existindo à partida, nenhuma explicação para ela.
A estreita porta, ao contrário do que inicialmente se pensava, servia como meio de ligação para com o exterior do Mosteiro, para passar refeições aos pobres.
Do lado Oeste, uma escada de pedra conduz ao Púlpito do Leitor, que lia textos espirituais durante as refeições.
Os Monges sentavam-se com os rostos virados uns para os outros e tomavam a sua refeição em silêncio. O Abade estava sentado com as costas viradas para a parede a Norte. Alguns metros atrás, encontra-se na mesma parede uma abertura de dois metros de altura e 32 cm de largura, que conduz à sala, não existindo à partida, nenhuma explicação para ela.
A estreita porta, ao contrário do que inicialmente se pensava, servia como meio de ligação para com o exterior do Mosteiro, para passar refeições aos pobres.
Em frente da entrada do Refeitório encontra-se o Lavabo. Ali, no meio de um pavilhão de cinco cantos existe um tanque com água corrente, no qual os monges lavavam as mãos antes das refeições. Esta disposição é típica de Mosteiros Cistercienses. O Lavabo é igualmente alimentado pela água da própria conduta de água potável.
Foi então chegada a hora
de dar uma última vista de olhos pelos claustros...
...já a caminho da saída do Convento de Alcobaça, já com o intuito de regressar a Lisboa.
Mesmo sabendo que o tempo se estava a escoar, foi-me ainda possível parar uns momentos sob um lindo emaranhado de buganvílias vermelhas que
cobriam a parte superior da parede de uma das casas de Alcobaça...
...para poder reflectir sobre
o quanto foi agradável aquela inesquecível visita numa igualmente agradável
companhia de muitos amigos e conhecidos da Academia Sénior de Carnide.
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