MOSTEIRO DE LORVÃO
PENACOVA-
COIMBRA
PORTUGAL
A sua história envolve estórias de Vida de algumas Infantas de Portugal
1 - INTRODUÇÃO
Este notável Mosteiro Português, está situado no concelho
de Penacova, num vale cercado de
serras e só a sua Igreja Monumental
escapou ao desgaste do tempo, das guerras e das lutas religiosas e políticas. À
semelhança de outros Mosteiros, a sua
história também envolve curiosas estórias de Vida de algumas das Infantas de Portugal.
Aceita-se que a sua
fundação data do Século VI, durante o qual terá sido ali identificada uma Paróquia Suevo-Visigótica de seu nome Lurbine. Consta ainda que o seu fundador
terá sido o abade Lucêncio que, também segundo se crê, já terá assistido ao 1º Concílio
de Braga no ano 561. Tal tese parece ser suportada pela existência de uma
pedra, com inscrições Visigóticas, incrustada na torre sineira do Mosteiro e
depois deslocada para a sua Sacristia, onde
agora está instalado, provisoriamente, o Museu
de Lorvão. A ser assim, este Mosteiro parece ser um dos mais antigos
mosteiros de toda a Europa.
Contudo, os primeiros
registos escritos sobre a existência de uma comunidade que desempenhou um
importante papel no desenvolvimento agrário e no povoamento da região, só
surgiram após a primeira Reconquista
Cristã de Coimbra, em 878. Tratava-se de Monges de Cluny, provenientes da cidade Francesa do mesmo nome, que
dedicaram este seu Mosteiro aos mártires S.
Mamede e S. Plágio.
Entretanto, parece ter sido
graças a doações de fiéis e ricos-homens, nomeadamente, durante o governo do
abade Primo (que mandou vir de Córdova artistas especializados para fazerem
obras na região), que este Mosteiro
ganhou considerável importância, ainda durante o Século X. Interrompida durante
a invasão muçulmana de 987, tal importância foi recuperada a partir de 1064 e
mantida depois durante toda a Idade Média,
com o crescimento de uma significativa povoação em redor do Mosteiro, atraída
pelo trabalho oferecido pelos monges nas suas extensas propriedades.
Em meados do século XI, após uma primeira fase na posse de eremitas provavelmente
sem Regra fixa, no ano de 1109, o Conde D. Henrique doou o Mosteiro ao Bispo de Coimbra.
Inicialmente masculino, o Mosteiro adoptou a Regra Beneditina, ficando então só dedicado a S. Mamede. Segundo consta, terá
sido depois São Bernardo, que aos 22
anos integrou o Mosteiro de Lorvão e
nele iniciou a Ordem de Cister.
Durante o reinado de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal (segunda metade do
século XII), o Mosteiro parece ter
sido dotado com um novo Claustro e
uma Igreja de três naves, aquando do
seu governo pelo Abade João (1162-1192). Terá sido então que o Mosteiro de Lorvão, juntamente com o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, passou
a ser um dos principais centros de produção de Manuscritos Iluminados, do jovem Reino de Portugal.
Entre a produção do Scriptorium de Lorvão salientam-se o Livro das Aves, executado no final do reinado de D. Afonso Henriques (1184)…
Iluminuras do Livro das Aves
…e o Apocalipse
do Lorvão, executado já durante o reinado de D. Sancho I (1189).
Iluminuras do Apocalipse
do Lorvão
Só no ano de 1206 o Mosteiro
passou a ser um mosteiro feminino, já então por invocação de Santa Maria. Esta profunda transformação
que, naturalmente implicou também adaptações
nos espaços, ficou a dever-se à filha
de D. Sancho I, a Infanta Beata Teresa de Portugal. Esta,
tendo casado com o Rei Afonso IX de Leão,
já depois de ter tido três filhos com o monarca Leonês, viu o seu matrimónio
ser declarado inválido pelo Papa, devido a consanguinidade, dado os cônjuges
serem primos direitos. Em consequência do seu profundo desgosto, a Infanta Beata Teresa regressou a
Portugal e veio para o Mosteiro de
Lorvão onde introduziu a congregação feminina, expulsando os monges, diz-se
que “devido ao seu relaxamento”. Sob
o hábito cisterciense e, apesar de, por testamento de seu pai D. Sancho I, ser Senhora do Castelo de Montemor-o-Velho, do Termo da Vila e de
todos os seus rendimentos, “deserdada” por seu irmão Afonso II, haveria de viver em Lorvão
até à sua morte, em 18 de Junho de 1250.
Recente
“recreação desses tempos”, no Mosteiro de Lorvão
Também a Infanta D.
Sancha, irmã de D. Teresa,
haveria de viver no Mosteiro de Lorvão,
até que as primeiras "enceladas" e monjas de Lorvão se transferissem, em 1219, para o Mosteiro de Santa Maria de Celas, que ela havia fundado na sua Quinta de Vimarães, junto a Coimbra. Na clausura de Celas haveria de viver até ao dia 13 de
Março de 1229, sendo então trasladada para o Mosteiro de Lorvão, onde repousam os seus restos mortais.
Por sua vez, a Infanta
D. Mafalda, esposa de D. Henrique I
de Castela que veria, à semelhança do ocorrido com D. Teresa sua irmã, o seu matrimónio ser anulado pelo Papa. ao regressar
a Portugal, procurou também refúgio no Mosteiro
de Lorvão. Nele viria depois a preparar a introdução da Regra de Cister no Beneditino Mosteiro de Arouca,
que lhe havia sido doado por D. Afonso II,
seu irmão.
As alterações introduzidas na época de D. Teresa, na primeira metade do século XIII, terão implicado novas
remodelações do Mosteiro. Mas, de
todas as obras medievais apenas nele persistem os capitéis em estilo românico
nas Capelas do Claustro.
Capitéis
em estilo românico nas Capelas do Claustro
Depois
disso, os vários períodos de esplendor (de que se destacam os das
abadessas D. Catarina de Eça e D. Bernarda de Alencastre, no séc. XIV e
os das abadessas D. Bernarda Teles de
Menezes e D. Teresa Luzia de Carvalho,
no séc. XVIII, todas ilustres preladas, de famílias da mais alta linhagem
Portuguesa), dotaram o Mosteiro de Lorvão
com as mais preciosas obras de arte.
Não obstante a significativa importância deste Mosteiro no contexto político nacional, nele
se viveram também épocas de crise. Umas relacionadas com a eleição das
abadessas, como foi o caso que opôs D.
João III a D. Filipa de Eça e
outras de conjuntura política e social, como a que ocorreu durante a Peste Negra de 1349.
Uma significativa actualização do Mosteiro de Lorvão, teve início nos últimos anos do século XVI,
incidindo, em primeiro lugar, no Claustro,
conferindo a este uma linguagem renascentista, onde se incluem várias capelas,
a que se acrescentaram, em 1677, as varandas, já de pendor mais próximo do
barroco.
Claustro
A Portaria do
Mosteiro data de 1630, já integrada no novo Edifício, iniciado na década de
1620. Foi, no entanto, o ciclo barroco que mais marcou o Mosteiro, intimamente relacionado com o culto oficializado às Santas Rainhas, cujo processo terminou
em 1724.
Actuais
componentes da Entrada do Mosteiro
Depois da
reformulação da sua Igreja, com a
construção de novas estruturas no séc. XVII, o Mosteiro de Lorvão não teve o azar de ser saqueado pelos Militares Franceses, que então passaram
no alto das montanhas que o circundam. Assim, não só o Mosteiro não foi saqueado, como a sua Casa dos Padres, teve a honra de alojar
por duas noites, em Setembro de 1810, o Duque
de Wellington que seguia para o Bussaco,
onde acabaria por derrotar as Tropas Francesas
do General Massena, facto ainda hoje
assinalado no Mosteiro com a seguinte
placa comemorativa.
Já no Século XIX, consequente da Revolução
Liberal de 1820, foi
decretada em 1834 a
extinção das Ordens Religiosas em
Portugal, tendo-se dado início à depredação de todas as riquezas
acumuladas durante séculos.
Tal extinção começou por se aplicar apenas aos Conventos masculinos. A extinção final das Ordens Religiosas femininas, só veio a ser regulamentada em 1862, decidindo-se
então que, qualquer Convento ou Mosteiro
feminino, só seria extinto aquando da morte da sua última religiosa.
Como já referido, o Mosteiro de Lorvão era de monjas da alta
nobreza, tendo sido uma das casas mais ricas do Reino e, consequentemente, com o supracitado decreto, o tempo de
abundância e riqueza terminou em 1834. Segundo registos fidedignos, nessa
altura, Alexandre Herculano terá
visitado o Mosteiro e escreveu ainda uma
carta a um amigo, com influência política, a chamar a atenção para "o mosteiro sumptuoso, vasto, alvejante, com
um aspecto exterior quasi indicando opulência, em que não há pão, mas só
lagrymas".
Com a extinção
das Ordens Religiosas, cessaram os
donativos e os rendimentos do Mosteiro,
pelo que as monjas tiveram de ir vendendo património mas, conforme contou ainda
o nosso célebre Escritor Português Alexandre
Herculano em 1853:
- "Deste mosteiro melancholico e
mal-assombrado como as montanhas abruptas que o rodeiam por todos os lados,
escrevo-lhe com o coração apertado de dó e repassado de indignação. (…) Lá
dentro, nesses corredores húmidos e sombrios, vi passar ao pé de mim muitos
vultos, cujas faces eram palidas, cujos cabelos eram brancos. Esses cabelos nem
todos os destinguiu o decurso dos anos: a amargura embranqueceu os mais deles.
Quasi todas essas faces têm-nas empalidecido a fome. Morrem aqui lentamente
umas poucas de mulheres, fechadas numa tumba de pedra e ferro. (…) Imagine
dezoito ou vinte mulheres idosas, metidas entre quatro paredes húmidas e
regeladas, sem agasalho, sem lume para se aquecerem, sem pão para se
alimentarem, sem energia na alma e sem forças no corpo, comparando o passado,
sentindo o presente e antevendo o futuro".
Entretanto, grande parte do Património
do Mosteiro foi adquirido às freiras,
encontrando-se hoje disperso por vários Museus
Nacionais, destacando-se o
existente no Museu Nacional de Machado de
Castro, em Coimbra, na Torre do Tombo
(pergaminhos e missais, entre os quais o célebre Apocalipse do Lorvão) e na Biblioteca
da Universidade de Coimbra. Segundo consta, o Apocalipse
do Lorvão, terá sido levado em 1853 para a Torre do Tombo pelo escritor Alexandre
Herculano, com autorização das freiras.
Entre os vários documentos
provenientes do Mosteiro de Lorvão,
também se encontra o Missal
Antigo do Lorvão, ainda manuscrito, mas especialmente conhecido
pelas suas miniaturas, representando as actividades típicas de cada mês do ano.
Completamente espoliadas dos seus bens, as últimas freiras
de Lorvão acabaram na mais degradante
miséria. Tendo sido proibido ao Mosteiro
de Santa Maria de Lorvão receber noviças, a última
freira do Mosteiro de Lorvão viria a
falecer em 1887. Após a morte a última monja, Luisa Tondela, o
Mosteiro passou para a Junta de Freguesia. Segundo consta, uma
parte significativa dos bens do Mosteiro,
foi destruída, saqueada e vandalizada. Ocuparam, venderam e deixaram-no em
ruínas.
Durante o Século XX,
o
primeiro passo significativo para a preservação do Mosteiro terá sido dado em Junho de 1910, com a integração
do Mosteiro de Lorvão na lista
original dos primeiros edifícios classificados como Monumento Nacional em Portugal, pelo Decreto de 16-06-1910, DG n.º
136, de 23-06-1910.
Abandonado
durante quase meio século, o Mosteiro viria
a começar a ser restaurado em
1943 pela Direção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais (criada em 1929 e extinta em 2019), tendo então ficado com três Dormitórios, Noviciaria, Hospício, Coro, Igreja, dois Claustros, Refeitório, Botica, Cartório, Oficinas, Celeiro e outras dependencias. Muitas destas instalações foram ocupadas
em 1959, por uma unidade hospitalar para
doentes de foro psiquiátrico, o Hospital Psiquiátrico
de Lorvão, que esteve a
funcionar até 2012.
Registos fotográficos de Março de 2019
A criação do Centro
Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, em 2007, conduziu a médio prazo, ao
encerramento do Hospital Psiquiátrico de
Lorvão. Em 2011 este tinha ainda 92 utentes: 30 internamentos residentes
femininos e 62 masculinos. Os últimos utentes foram transferidos em 2012 para
outras unidades, principalmente para Miranda do Corvo e Condeixa-a-Nova.
A 3 de Maio de 2014, foi inaugurado no Mosteiro de Lorvão, um exemplar único de um Órgão Ibérico de Dupla Face (após cerca de 25 anos do início da sua
reparação). Orgão de dimensões e
sonoridade absolutamente fora do comum, quer pelas suas grandes dimensões, quer
pelas suas diferentes caracteristicas de sonoridade, enquanto instrumento
musical.
Em 2018, o
governo assinou e pretende transformar em Hotel
de 5 Estrelas, as alas do Mosteiro
onde funcionou, até 2012, o Hospital
Psiquiátrico, existindo mesmo já projectos para o efeito.
O Mosteiro de Lorvão mantém actualmente o espaço da Igreja, o Coro Baixo com o seu notável Cadeiral,
o Claustro do Silêncio, o Zimbório e uma Colecção Museulógica notável, que bem merecem uma visita
enriquecedora e memorável.
2 – COMPONENTES DO MOSTEIRO DE LORVÃO
2.1- IGREJA
Logo ao entrar na Igreja,
surpreende o visitante o seu belo Retábulo-mor
…
Aspectos
do Retábulo-mor
…na base do qual surpreende também o seu invulgar altar em talha dourada.
Altar
em talha dourada
De ambos os lados do
altar central, que revela uma significativa influência do Barroco Joanino de Mafra, característico da época da
reconstrução global da Igreja (ocorrida
entre 1748 e 1761), merecem especial destaque as belíssimas urnas das Infantas Teresa e Sancha, que já foram executadas
no século XVIII, mais precisamente em 1714, pelo ourives portuense Manuel Carneiro da Silva, depois da
beatificação das Infantas ocorrida no ano de 1705.
Urnas das Infantas Teresa e Sancha
Pormenor do
Túmulo da Infanta Teresa de Portugal
Estas duas Infantas
foram as que depois da morte do pai D.
Sancho I, mantiveram um duradouro litígio com o irmão, o rei D. Afonso II, na defesa dos
seus direitos rios. Tal litígio só veio a ser resolvido depois da morte deste rei, já então pelo sobrinho das Infantas D. Sancho II.
Grade de ferro com
bronze dourado, separando a Igreja do Coro-Baixo
Com a beatificação de
Teresa e Sancha e com o consequente
aumento da fama de Lorvão, começaram
ali a afluir numerosos peregrinos, o que conduziu a uma particularidade na Igreja deste Mosteiro: a da criação do seu Coro
Baixo, permitindo separar a área de culto público, da zona de culto das
monjas que nele viviam.
2.1 - CORO BAIXO
Tratando-se de monjas
de clausura, elas não podiam ter contacto com os visitantes, pelo que ali teve
de ser construída uma separação entre a Igreja
e o Coro Baixo, consistindo numa
grade de ferro forjado com aplicações de bronze dourado, a melhor obra de
rococó do seu género, em Portugal. Sobre ela ergue-se o Órgão de duas fachadas, em sóbrio, mas gracioso Estilo Neo-Clássico.
A particularidade das suas duas fachadas é que se encontrando opostas uma à
outra, emitem diferentes sonoridades, tornam-no único no País e na Península Ibérica.
Foi feito por António Xavier Machado
Cerveira em 1795, tem 61 registos e é ainda hoje usado com frequência nas missas de Domingo.
Para maior resguardo das monjas, foi ali também instalada na época uma espessa cortina.
Para maior resguardo das monjas, foi ali também instalada na época uma espessa cortina.
Vista do Orgão do lado do Coro Baixo, com os tubinhos
pequenos
Vista do Orgão do lado da Igreja, sem os tubinhos pequenos
Na entrada do Coro Baixo, num dos altares da direita, surpreende novamente o
visitante, um invulgar quadro representando Nossa
Senhora da Vida, do século XV.
Nossa Senhora da Vida, do séc. XIV
Logo abaixo, encanta o visitante uma
caminha forrada a veludo escarlate.
Caminha
dourada e forrada a veludo
Quase centrando o
espaço, é exibido um antigo suporte de livros quadrangular, tendo já como pano
de fundo um belíssimo Cadeiral que, naquele
espaço, é sem dúvida, o que mais desperta admiração.
Suporte
de livros quadrangular
Aquele grandioso Cadeiral, esculpido em jacarandá preto
do Brasil e nogueira, foi construído entre 1742 e 1747 e, quer pela delicadeza
dos seus ornamentos, quer pela espiritualidade dos santos mártires esculpidos
sobre as suas cadeiras, quer ainda pela nota de fantasia conferida pelas
máscaras existentes na parte inferior dos assentos, chama a atenção de qualquer
mortal. Diz-se ser o mais espectacular Cadeiral
Português e o mais magistral, sob o ponto de vista técnico.
Cadeiral
do Coro Baixo
Consta também que ainda foi tentado, refazer as cadeiras que
arderam num fogo ali ocorrido em tempos, mas os artífices desistiram, pois o
que conseguiram, ficava longe do original ardido.
Extremo
do Cadeiral do Coro Baixo já próximo da porta de ligação ao Convento
Regresso
à entrada do Coro Baixo vindo da Igreja, com porta à direita para aceder ao
Claustro
2.3 – CLAUSTRO DO SILÊNCIO
Este Claustro foi
remodelado com estilo Renascentista, já nos finais do século XVI, mas foi só na
segunda metade do século XVII, mais precisamente em 1677, que lhe foram acrescentadas
as varandas, que lhe conferem hoje o seu actual aspecto acolhedor e harmonioso,
de pendor Barroco.
…e atravessar toda a Igreja para...
…aceder à porta da Sacristia para visitar o ainda provisório Museu de Lorvão.
Porta
lateral ao Altar- Mor de acesso à Sacristia
2.4 - Museu do Mosteiro de Lorvão
Por iniciativa e responsabilidade da Paróquia local, a criação de um Museu
de Arte em Lorvão foi já anunciada em 1921, com o objectivo de recolher e
tratar condignamente as peças do espólio do Mosteiro,
de temática histórico-artística, paramentária e ainda outros objectos litúrgicos,
telas e peças de escultura e acervo do antigo cenóbio.
Terá sido assim que numerosas pinturas, cerâmicas,
mobiliário e tapeçaria dos séculos XVII e XVIII, de que se destacam as
esculturas de São Bento e São Bernardo, de cerca de 1510 e um Cristo
Crucificado do séc. XV, passaram a ser expostas e catalogadas na própria Sacristia do Mosteiro.
Entre os paramentos, salienta-se o véu da pixide (Cálice), bordado a ouro e aljôfar (pequenas pérolas), o único no mundo a ser usado por uma mulher, abadessa do Mosteiro, depois de especial autorização Papal. Das peças de ourivesaria destacam-se uma Virgem com o Menino, do início do séc. XVII, e a custódia, datada de 1760, primorosa obra da ourivesaria de Lisboa.
Peças de ourivesaria
Custódia
e outras belas peças de arte
O
espaço já criado para o Museu, sobrepõe
as varandas do Claustro do Silêncio.
Criado que já está o espaço, a projectada museulização
do mesmo, aguarda agora a disponibilização de verba estatal para o efeito.
2.5 – DOÇARIA
CONVENTUAL de Lorvão
À semelhança do que ocorreu em tantos outros Mosteiros, também no de Lorvão, as freiras desenvolveram uma
doçaria personalizada que, como habitualmente, aproveitava os numerosos ovos
das galinhas criadas nas suas quintas, bem como o açúcar que na época era um
produto raro e caro, mas que era facultado às freiras por ofertas, quer das
suas abastadas famílias, quer dos seus paroquianos ricos, quer ainda do próprio
Estado de então.
No caso do Lorvão a
sua doçaria era tão rica que, em 2013, a Câmara
Municipal de Lorvão editou o livro intitulado «Doçaria Conventual de Lorvão», da autoria de Nelson Correia Borges, um filho da terra, professor aposentado do Instituto de História de Arte da Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra, o qual fez a sua tese de doutoramento
sobre Lorvão – «Arte monástica em Lorvão: sombras e realidade: das origens a 1737».
Manjar branco em discos
de barro vermelho
(Foto de Nelson Borges (BORGES, 2013: 132)
Contudo, entre a doçaria que saía das mãos das freiras de Lorvão, podem ainda referir-se: “alfenins,
alfitetes, beijinhos de freira, beijos, biscoitos, bocados de abóbora, bolo de Bispo,
bolo de Santa Teresa, bolo podre de Lorvão, bolos d’arica, botelhada, broas de
amêndoa, broas de ovos, capelas de ovos, caramelos, cavacas de Lorvão, cidrada,
confeitos, derriços, doce de amêndoas, doce de laranja, farténs de amêndoa,
fatias do céu, fatias do conde, fios de ovos, ginetes, lampreia doce,
linguadas, manjar divino, manjar real, marmelada de sumos, massapães,
melindres, milharós, morgados, nabada, ovos doces, ovos-moles, palermos
cobertos (hoje nevadas), palitos, pão-de-ló de amêndoa, papos de anjo, perada,
pêssegos cobertos, queijinhos do céu, súplicas, talhadas, tigelada, tolos,
tortilhas, tremoços…
Pão-de-ló de amêndoa
Eis
a razão pela qual, numa visita ao Mosteiro,
não dá para deixar de visitar algumas das pastelarias vizinhas, para provar
(pelo menos) um destes belíssimos doces conventuais.
Pastelaria especializada em doces conventuais
E é exactamente dentro de
uma destas Pastelarias que, depois de saborear uma bela nevada, é ainda dada ao
visitante a possibilidade de terminar a visita com chave de ouro, apreciando
este belo quadro feito em azulejo Português e representando de modo bem
original o belíssimo Mosteiro do Lorvão.
……..FIM……